
Por Luana
Drama em Baku: seis bandeiras vermelhas e pole de Verstappen
Seis bandeiras vermelhas, quase duas horas de tensão e uma volta final cirúrgica. Esse foi o roteiro da classificação do GP do Azerbaijão 2025, em Baku, coroada com a pole de Max Verstappen. O tricampeão da Red Bull marcou 1:41.117 e abriu a primeira fila para um domingo que promete ação do início ao fim nas ruas estreitas da capital do Azerbaijão.
Logo atrás, um destaque que mexe com o campeonato: Carlos Sainz, em temporada de estreia pela Williams, cravou 1:41.595 e assegurou a segunda posição no grid. A equipe de Grove mostrou velocidade em reta e confiança nos setores de baixa, um equilíbrio raro em Baku. Em terceiro, Liam Lawson manteve a fase consistente pela Racing Bulls com 1:41.707, enquanto Kimi Antonelli levou a Mercedes à quarta posição com 1:41.717, apenas seis décimos atrás de Verstappen. George Russell, também de Mercedes, fecha o top 5 com 1:42.070.
O que deixou a sessão histórica foi a sequência de interrupções. Foram seis bandeiras vermelhas — recorde — que fatiaram o tempo de pista, derrubaram o ritmo dos pilotos e embaralharam as estratégias de cada equipe. Cada relargada virou uma loteria: pneus esfriavam, a borracha assentada na pista perdia eficiência e retomava-se do zero. Nesse entra-e-sai, quem acertou a janela de volta rápida, gerenciou temperatura de pneus e freios e encontrou tráfego limpo, ganhou. Verstappen foi exatamente isso: execução sem desperdício.
Entre as interrupções, a primeira veio ainda no Q1, com o acidente de Alex Albon. O piloto da Williams bateu e causou a abertura do longo festival de bandeiras. A sessão seguiu entre incidentes e detritos, típicos de Baku, onde a precisão milimétrica entre muro e carro é obrigatória. A natureza de rua do traçado cobra caro por erros, e qualquer toque vira uma ameaça de bandeira vermelha.
A maratona não parou por aí. No pós-classificação, Esteban Ocon foi desclassificado após a inspeção técnica detectar irregularidade na asa traseira da Haas. O francês havia sido registrado inicialmente em 18º, mas a exclusão removeu seu tempo e ajustou o grid: Pierre Gasly e Alex Albon subiram uma posição cada. Em termos práticos, é o tipo de punição que machuca duas vezes — tira resultado e bagunça a estratégia —, mas é a aplicação direta do regulamento: fora dos limites técnicos, não há tolerância no parque fechado.
O circuito citadino de Baku, de 6,003 km, mistura uma reta gigantesca — onde o vácuo e o DRS valem ouro — com miolos apertados, como o trecho do “castelo”, que não perdoa distrações. Desde 2016 no calendário, o traçado virou sinônimo de imprevisibilidade: safety car frequente, mudanças bruscas de ritmo e oportunidades que nascem do nada. A classificação de hoje só reforça essa reputação.
O papel de cada protagonista também ficou claro. Verstappen entregou uma volta forte no momento certo, sem margem para correções. Em segundo, Sainz parece confortável com o carro da Williams em baixa e média velocidade, e conta com um motor eficiente em reta. Isso pode ser arma para a largada: a T1 é uma freada pesada e convida a mergulhos por dentro. Lawson, em terceiro, segue a toada de desenvolvimento sólido, aproveitando um carro equilibrado na Racing Bulls. E a Mercedes sai com duas cartas para o jogo: Antonelli, em ascensão visível, e Russell, consistente como sempre.
Os números ajudam a contextualizar a disputa pela pole: entre o primeiro e o quarto, menos de 0s6. Em Baku, isso é margem mínima. As bandeiras vermelhas comprimiram ainda mais a tabela de tempos, porque tiraram o luxo de múltiplas tentativas. Muita gente ficou sem o ciclo ideal de aquecimento de pneus, especialmente no composto mais macio, que precisa de temperatura exata para entregar a aderência.
Falando em pneus, a tônica deste domingo tende a ser gerenciamento inteligente. A superfície de Baku é menos abrasiva que a média, mas a alternância reta/miolo cobra dos pneus dianteiros em frenagens e mudanças rápidas de direção. Uma estratégia de uma parada é possível, mas depende do ritmo de safety car. Se o caos aparecer — e em Baku ele costuma aparecer —, duas paradas viram opção real, especialmente se houver bandeiras que “dão” pit stop sem tanta perda de tempo.

O que esperar da corrida: estratégias, pista e rivais
A corrida terá 51 voltas, totalizando 306,049 km. A primeira volta costuma decidir muito: o cone de vácuo na reta dos boxes é longo o suficiente para um ataque direto à T1. Não é incomum ver dois, três carros lado a lado na freada. E as oportunidades não param por aí: a T3 também oferece ultrapassagem, com uma sequência que premia quem posiciona bem o carro na saída da T2.
Para Verstappen, o desafio é controlar a relargada e escapar do vácuo de quem vem atrás. Se Sainz grudar na asa traseira nas primeiras curvas, a disputa fica aberta. A Williams tem mostrado eficiência no setor de alta e pode usar isso a seu favor. Para Lawson, a missão é clara: proteger a posição na largada e administrar pneus no primeiro stint. Já a Mercedes joga com duas peças: Russell, capaz de ditar ritmo de perseguição, e Antonelli, que tem mostrado maturidade para capitalizar em janelas oportunistas. O italiano, aliás, vem numa curva de aprendizado rápida e tem sido confiável em ritmo de corrida.
No pit wall, o relógio vai mandar. O undercut em Baku pode ser forte se o piloto sair com ar limpo — o que não é garantido pelo tráfego. O overcut também funciona em períodos de aquecimento lento da borracha, quando quem fica mais tempo na pista colhe o asfalto mais emborrachado. Junte a isso a chance real de safety car e virtual safety car, e o tabuleiro muda a cada setor.
Outro fator clássico do Azerbaijão: o vento. Rajadas repentinas, principalmente na área do castelo e na aproximação da T1, mudam o ponto de frenagem e desestabilizam a traseira. Em dias assim, pilotos ganham tempo por decisão, não só por carro. Travadas de roda são comuns e reduzem margem tática porque antecipam paradas. Quem escapar de danos em asas e rodas nos primeiros trechos tende a colher na segunda metade da prova.
A direção de prova vai ter trabalho, como sempre em Baku. Safety car é uma presença constante quando as barreiras entram em cena. O posicionamento de guindastes e a remoção rápida de detritos podem virar protagonistas invisíveis, encurtando ou estendendo stints. Em corridas com múltiplas neutralizações, quebras de ritmo exigem cabeça fria: relargar bem vira metade da estratégia.
Nos boxes, ajustes de asa e pressão de pneus antes da largada vão refletir a leitura do clima e do tráfego. Mais asa dá confiança no miolo, mas mata um pouco a velocidade de topo, crucial para se defender na reta principal. Menos asa protege em reta, mas deixa o carro arisco nas curvas estreitas. É o paradoxo de Baku: quem acerta o meio-termo vira candidato natural ao pódio.
Vamos ao quadro de forças após a classificação:
- Red Bull com a referência de volta lançada e execução perfeita sob pressão. Verstappen larga para controlar o ritmo e gerenciar possíveis relargadas.
- Williams em alta com Sainz, rápida em linha reta e eficiente nas curvas lentas. A segunda posição dá a melhor chance de ataque na T1.
- Racing Bulls sólida com Lawson, desempenho consistente e margem para brigar por pódio em ritmo de corrida.
- Mercedes dupla no top 5, o que abre opções de estratégia cruzada. Antonelli e Russell podem trabalhar ar limpo em janelas diferentes.
Na zona intermediária, a corrida promete embaralhar tudo. Baku tem histórico de permitir que carros fora do top 3 em ritmo puro apareçam no top 5 com estratégia e timing de safety car. É aí que equipes com boa eficiência de pit stop e leitura de pista ganham posições “de graça”.
Sobre a desclassificação de Ocon, vale uma explicação rápida. O parque fechado é quando os carros ficam sob custódia da FIA após a classificação, e ali tudo precisa estar dentro do regulamento ao milímetro. Uma asa traseira fora das tolerâncias técnicas pode gerar ganho indevido de downforce ou alterar o equilíbrio do carro. A sanção é pesada por princípio: garantir igualdade competitiva. Com a exclusão, o grid foi ajustado e Gasly e Albon herdaram uma posição cada.
Também chama atenção a resistência mental dos pilotos. Seis bandeiras vermelhas quebram o fluxo e elevam o risco de erro. Cada vez que a sessão para, a borracha na pista esfria, as pressões variam e o piloto perde a referência exata de frenagem. Repetir o processo seis vezes e ainda assim encaixar uma volta de pole como a de 1:41.117 diz muito sobre a forma de Verstappen — e sobre o nível de execução da Red Bull na preparação de volta, desde o posicionamento no tráfego até o aquecimento controlado dos pneus.
Sainz, por sua vez, saiu com um prêmio valioso: posição de ataque em um domingo que costuma premiar quem arrisca. A Williams encontra um cenário raro, com chance real de vitória se acertar largada e estratégia, especialmente se a corrida for fatiada por neutralizações. Lawson aparece como o fiador de um pódio possível, jogando no erro dos outros e na consistência do seu pacote.
Os 6,003 km de Baku separam extremos em poucos metros: curvas de 90 graus depois de longas retas, muros próximos e margens pequenas. O erro tem endereço — e ele fica muito perto das linhas ideais. É por isso que o resultado de sábado, tão fragmentado por bandeiras vermelhas, não é garantia de estabilidade no domingo. A corrida costuma contar outra história. E é justamente por isso que Baku se tornou uma das etapas mais esperadas do calendário.
Quando as luzes se apagarem, a matemática é simples para os líderes: quem sobreviver à T1 com pneus na janela, freios na temperatura e carro inteiro, dita o tom. A partir daí, o jogo vira de estratégia, cabeça e execução. E, convenhamos, com o grid formado por Verstappen, Sainz, Lawson, Antonelli e Russell na frente, material para um domingo agitado não falta.