
Na manhã de 10 de outubro de 2025, às 11h (horário da Europa Central), o Comitê Nobel Norueguês anunciou que María Corina Machado, Coordenadora Nacional da Vente Venezuela, líder do Movimento Democrático da Venezuela seria premiada com o Nobel da Paz 2025. O anúncio, feito no Instituto Nobel de Oslo, destacou sua luta não‑violenta pela democracia e pelos direitos humanos em meio à crise venezuelana.
Contexto histórico da luta democrática na Venezuela
Desde a queda de Hugo Chávez em 2013, a Venezuela tem vivido um impasse político cada vez mais profundo. Nicolás Maduro, presidente desde 2013, tem sido acusado de fraude eleitoral, repressão e uso arbitrário do Poder Judiciário para impedir a oposição. Foi nesse cenário que María Corina Machado emergiu como uma das vozes mais contundentes.
Eleita para a Assembleia Nacional em 2010 com a maior votação do país, Machado fundou em 2017 a plataforma SoyVenezuela, ao lado de Antonio Ledezma e Diego Arria. A iniciativa reuniu 47 organizações da sociedade civil e coordenou 187 protestos, incluindo a marcha de 500 mil pessoas em Caracas, em 30 de abril de 2019.
Em outubro de 2023, Machado venceu as primárias da oposição com impressionantes 92,35% dos votos, mas teve a candidatura anulada pelo Conselho Nacional Eleitoral em janeiro de 2024 – um golpe que a Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou como violação dos princípios democráticos. Mesmo assim, ela continuou a orientar a campanha de Edmundo González, que venceu as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, embora o regime tenha se recusado a reconhecer o resultado.
Detalhes da concessão do Nobel da Paz 2025
Durante a cerimônia anual no Instituto Nobel, o secretário do comitê, Olav Njølstad, leu a justificativa: "Por sua resistência pacífica contra o autoritarismo e pela restauração da democracia em Venezuela, Machado se tornou símbolo de esperança para milhões".
O prêmio inclui 11 milhões de coroas norueguesas – cerca de US$ 1,05 milhão – que Machado prometeu doar integralmente a organizações humanitárias venezuelanas. O dinheiro será canalizado, segundo seu discurso, para projetos de alimentação, saúde e educação nas áreas mais afetadas da crise.
O Cerimônia de Entrega do Prêmio Nobel da Paz 2025Oslo City Hall acontecerá em 10 de dezembro de 2025, mas a presença de Machado ainda depende da liberação de seu passaporte, que foi revogado pelo governo de Maduro em fevereiro de 2024.

Reações de líderes internacionais e do regime Maduro
O anúncio gerou elogios imediatos. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que o Nobel "valida a luta do povo venezuelano por liberdade". Já o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, destacou o compromisso europeu com forças democráticas na América Latina.
Do lado contrário, o ministro das Relações Exteriores de Maduro, Yván Gil Pinto, acusou o prêmio de "manobra política de forças imperialistas" durante coletiva em Caracas, às 16h30 (horário local).
Apesar da retórica agressiva, autoridades venezuelanas não impediram a divulgação internacional do prêmio, possivelmente por temer maiores sanções econômicas.
Impactos no campo humanitário e político venezuelano
- 7,7 milhões de venezuelanos deslocados, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em 31/12/2024.
- Pobreza atinge 76,6% da população, de acordo com a ENCOVI de 15/01/2025.
- Vente Venezuela conta com cerca de 15 mil membros registrados, presente em 23 dos 24 estados.
- O prêmio pode facilitar a liberação de recursos para ONGs como Médicos Sem Fronteiras e Cruz Vermelha venezuelana.
Especialistas acreditam que a visibilidade internacional pode pressionar o governo Maduro a abrir espaço para diálogos políticos. O professor de ciência política da Universidade de Caracas, Luis Fernández, comenta que "o Nobel funciona como um microfone mundial; agora, a pergunta é se o regime vai silenciar ou responder".

O que esperar: cerimônia, viagem e futuro do prêmio
Se Machado conseguir o visto, ela deverá viajar para Oslo em dezembro, acompanhada por representantes da Vente Venezuela e delegados da OEA. Caso contrário, o comitê anunciou que a laureada poderá fazer a palestra via videoconferência – primeira vez que o Nobel da Paz ocorre dessa forma.
Independentemente da presença física, a entrega do Nobel reforça a narrativa de que a luta venezuelana está no centro das discussões sobre democracia global. Observadores internacionais monitoram de perto como o prêmio influenciará as negociações de paz entre governo e oposição nas próximas semanas.
Perguntas Frequentes
Como o Nobel da Paz pode afetar a situação política na Venezuela?
A visibilidade internacional gerada pelo prêmio pode intensificar a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro, incentivando negociações com a oposição. Além disso, o reconhecimento fortalece a legitimidade de líderes como María Corina Machado perante a comunidade internacional.
Qual o destino do dinheiro do prêmio?
Machado prometeu destinar integralmente os 11 milhões de coroas norueguesas a organizações humanitárias venezolanas, incluindo projetos de saúde, alimentação e educação para as comunidades mais vulneráveis.
É provável que Machado consiga viajar a Oslo?
A viagem depende da liberação de seu passaporte, revogado em fevereiro de 2024. O comitê já sinalizou que, caso haja impedimento, a laureada poderá fazer a palestra por videoconferência.
Qual foi a reação do governo de Maduro ao prêmio?
O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil Pinto, denunciou o Nobel como "manobra imperialista" e afirmou que o reconhecimento não altera a soberania venezuelana.
O que dizem os especialistas sobre o futuro da democracia venezuelana?
Analistas como o professor Luis Fernández acreditam que o prêmio pode abrir espaço para diálogos, mas alertam que o regime pode reagir com ainda mais repressão se sentir ameaçado.
Gustavo Cunha
outubro 11, 2025 AT 00:22É incrível ver a Venezuela ganhar visibilidade internacional justamente agora.