
Memórias da São Silvestre
Quando o sino da meia-noite toca nas ruas de São Paulo, muitos pensam em fogos e festas. Para Paul Tergat, a tradição tem outro nome: São Silvestre. O corredor queniano, cinco vezes vencedor da corrida de 15 km, ainda sente a adrenalina de cruzar a linha de chegada naquele fim de ano. Ele conta que a primeira vitória, em 1995, foi um marco, pois naquele mesmo ano bateu o recorde da prova, marca que ainda permanece.
Na memória de Tergat, a corrida foi mais que um teste de velocidade; foi um encontro cultural. "A São Silvestre tem uma energia única. O público vibra como se fosse um espetáculo", relembra. Essa conexão o transformou em celebridade no Brasil, chegando a ser convidado para programas de TV e eventos esportivos locais, algo incomum para um atleta estrangeiro.
Ao longo de suas cinco conquistas (1995, 1996, 1997, 1998 e 2000), o queniano não só colecionou troféus, mas também criou laços com corredores amadores que treinavam nas mesmas ruas que ele percorria. “Sempre que eu passava por aí, via jovens tentando imitar meus passos”, comenta. Essa interação gerou uma onda de motivação para a nova geração de corredores brasileiros.
- Recorde atual da prova: 15 km em 41 minutos e 57 segundos (1995).
- Vitórias consecutivas: 1995‑1998, com retorno triunfal em 2000.
- Participação em eventos beneficentes e de incentivo ao esporte no Brasil.

Tecnologia dos tênis e o futuro da corrida
Em conversa recente, Tergat mostrou fascínio pelas inovações que surgiram nos últimos anos nos calçados de alta performance. Ele explicou que, se tivesse tido acesso aos tênis com placas de fibra de carbono e espumas de energia que dominam as maratonas hoje, seus tempos poderiam ter melhorado consideravelmente.
“Na minha época, os tênis eram leves, mas não tínhamos aquela combinação de retorno de energia e estabilidade que vemos agora”, afirma. O corredor lembra que, ao criar seu recorde mundial na maratona de Berlim, em 2003, com 2h04m55s, corria com um modelo básico de calçado. Hoje, atletas como Eliud Kipchoge utilizam tecnologia que reduz o gasto energético em até 4%, segundo estudos da Universidade de Stanford.
Além do impacto direto nas marcas pessoais, Tergat acredita que a evolução dos tênis está democratizando o esporte. "Quando o custo diminui e a tecnologia se populariza, mais gente tem a chance de correr melhor e, sobretudo, de se manter saudável", pontua.
Ele também relaciona sua passagem pelo cross country (cinco títulos mundiais consecutivos de 1995 a 1999) com a importância do equipamento adequado. "Nos terrenos irregulares, a aderência e o amortecimento são vitais", lembra, destacando que a mesma lógica vale para a pista de rua.
- Recorde mundial de maratona: 2h04m55s (Berlim 2003).
- Campeões mundiais de cross country: 1995‑1999.
- Rivalidade histórica com Haile Gebrselassie nos Jogos Olímpicos de 1996 e 2000.
- Influência na popularização de tênis de alta tecnologia entre corredores amadores.
Hoje, de sua base em Eldoret, Tergat acompanha as provas e sente orgulho ao ver jovens atletas quenianos usando os mesmos modelos avançados que ele só poderia sonhar. Ele acredita que a combinação de talento, treinamento rigoroso e inovação continuará a elevar os limites da corrida nos próximos anos.