Quando Oscar Piastri olhou nos olhos dos diretores da McLaren e disse "não", o clima no Lusail International Circuit mudou. O australiano de 23 anos, que está empatado com Max Verstappen na classificação da F1, recusou categoricamente qualquer ordem para ajudar seu companheiro de equipe, Lando Norris, a vencer o campeonato. E não foi um "não" educado. Foi um "não" de quem sabe que o título ainda está vivo — e que ele não vai deixar de lutar por ele só porque o time quer.
A situação que virou caos
Tudo começou na Grande Prêmio de Las Vegas, em 24 de novembro de 2025. Norris estava em segundo, Piastri em quarto, e Verstappen venceu. A vantagem de Norris sobre Piastri chegou a 30 pontos. Mas a FIA descobriu que os skid plates dos dois carros da McLaren tinham menos de 9mm de espessura — o mínimo permitido. Ambos foram desclassificados. De repente, a liderança de Norris caiu para 24 pontos. E com 58 pontos ainda em jogo — dois finais de semana, duas corridas, um sprint — tudo voltou para o zero. Literalmente."Um caçador tem que ser implacável"
Piastri não escondeu sua postura. Em entrevista no paddock, ele foi direto: "Tivemos uma breve conversa. A resposta é não." Ele não falou em traição, nem em lealdade. Falou em caçador. "Um caçador tem que ser implacável, acho. Vou fazer o melhor que puder... só estou tentando extrair o máximo de mim mesmo." É um discurso que ecoa nas pistas desde Senna: o título é individual, mesmo quando o carro é de equipe. Ele lembrou que já viu campeonatos virarem de cabeça para baixo. Em 2021, Verstappen superou Hamilton com um último giro. Em 2008, Hamilton venceu por um ponto. "Já aconteceu. Não é impossível", disse, com os olhos fixos no futuro. Matematicamente, ele precisa vencer as duas corridas restantes — Qatar e Abu Dhabi — e que Norris termine em terceiro em ambas as corridas do Qatar e em quarto em Abu Dhabi. Só assim, com um ponto de vantagem, ele vence.Um gesto que desafiou a equipe
Mas o mais surpreendente não foi o "não" de Piastri. Foi o "sim" de Norris. No Sprint de Qatar, em 28 de novembro, Norris tinha a chance de manter sua posição e garantir pontos cruciais. A equipe, liderada pelo chefe Andrea Stella, pediu três vezes para ele não ceder a posição. O motivo? George Russell, da Mercedes, estava a apenas 0,063 segundos atrás na classificação. Um erro, e Russell poderia ultrapassar Norris e se tornar ameaça direta. Norris fez o oposto. Na reta final, deixou Piastri passar. Terminou 0,136 segundos atrás. Russell, 0,274 segundos atrás. "Foi um pouco mais perto do que eu queria", admitiu Norris após a corrida. "Mas planejei fazer isso desde São Paulo. Foi o que acho certo. Talvez seja um pouco arriscado. A equipe me disse para não fazer, mas achei que daria certo. E deu." Stella, que já havia enfrentado crises de equipe em 2021, sorriu. "Lando estava disposto a devolver o favor. Isso segue nossos princípios — justiça, esportividade." Mas ele deixou claro: "Um ponto para Oscar não foi fator no campeonato."O que os especialistas dizem — e o que não dizem
Analistas da SEN chamam a trajetória de Piastri de "desmoronamento silencioso". Ele não sobe ao pódio desde o GP da Itália, em setembro. Em outubro, era o terceiro mais rápido. Hoje, segundo especialistas, está no quinto lugar da velocidade real da pista. Ele perdeu 104 pontos para Verstappen e 34 para Norris em apenas um mês. "Precisa de algo mágico", disse um técnico anonimamente. "Não é só questão de carro. É de confiança. E ele perdeu a confiança da equipe." Mas Piastri não vê isso. Ele vê uma chance. E uma equipe que, por um momento, decidiu não apagar essa chance.
O que está em jogo em Abu Dhabi
Se Norris conseguir manter uma vantagem de mais de 25 pontos após o Grande Prêmio do Catar, ele vence o título antes mesmo de chegar a Abu Dhabi. Caso contrário, a decisão vai para a última corrida, em 7 de dezembro. E aí, tudo muda. Se Piastri vencer, e Norris não subir ao pódio, o título é dele. Se Norris vencer, e Piastri não chegar em segundo, Norris vence. E se Verstappen vencer e os dois da McLaren falharem? A Red Bull entra na festa. Aí, a McLaren deixa de ser protagonista — e vira coadjuvante.A tensão que não foi resolvida
A McLaren está entre a espada e a parede. Apoiar Norris é lógico: ele lidera. Mas silenciar Piastri é um risco. Ele é jovem, talentoso, e já demonstrou que pode vencer. Se ele se sentir traído, pode sair em 2026 — e a equipe perde um ativo de longo prazo. E se Norris vencer com ajuda? A vitória terá um gosto amargo. Se vencer sozinho? Será um título de guerreiro. Ninguém sabe o que vai acontecer em Abu Dhabi. Mas uma coisa já está clara: na F1, o que se joga não é só o campeonato. É a alma da equipe.Frequently Asked Questions
Por que Piastri se recusou a ajudar Norris mesmo estando empatado com Verstappen?
Piastri está empatado com Verstappen em pontos, o que significa que ele ainda tem chances reais de vencer o campeonato — mesmo sendo segundo na classificação da McLaren. Ele acredita que o título é individual e que ceder posições por ordem da equipe comprometeria sua própria trajetória. Além disso, ele não vê Norris como um "líder" que merece prioridade, mas como um rival dentro da mesma equipe.
Como Norris conseguiu passar Piastri no Sprint de Qatar se a equipe pediu para não fazer isso?
Na verdade, foi o contrário: Norris permitiu que Piastri o ultrapassasse, não o contrário. Ele fez isso como um gesto de reciprocidade, já que Piastri havia feito o mesmo por ele no Sprint de São Paulo. A equipe tentou impedir, mas Norris agiu por convicção pessoal, dizendo que era "o que acreditava ser certo". A decisão foi arriscada, mas resultou em um ponto extra para Piastri e uma demonstração de esportividade.
Qual é a matemática exata para Piastri vencer o campeonato?
Piastri precisa vencer tanto o Sprint quanto a corrida principal no Catar, e também vencer em Abu Dhabi. Ao mesmo tempo, Norris precisa terminar em terceiro nos dois eventos do Catar e em quarto em Abu Dhabi. Nesse cenário, Piastri chegará a 420 pontos, e Norris a 419 — vitória por um único ponto. É um cenário extremamente raro, mas já aconteceu na F1 — como em 2008, quando Hamilton venceu por um ponto.
O que a desclassificação de Las Vegas mudou na disputa?
Antes da desclassificação, Norris tinha 30 pontos de vantagem sobre Piastri. Após perderem os pontos da corrida, a diferença caiu para 24. Isso transformou o campeonato de uma corrida decidida em uma batalha aberta. Sem essa desclassificação, Norris já teria o título garantido antes do Catar. A punição da FIA deu nova vida à disputa — e colocou a McLaren em uma situação sem precedentes.
Andrea Stella realmente apoia Piastri ou só está fingindo?
Stella diz que valoriza a esportividade, mas sua prioridade é o título da equipe. Ele não está apoiando Piastri abertamente — apenas não o impedindo. A McLaren ainda quer Norris como campeão, mas não quer criar um conflito interno que possa destruir a equipe no futuro. O gesto de Norris foi uma exceção, não uma política. Stella está equilibrando o presente com o futuro.
Se Piastri vencer o título, ele vai sair da McLaren?
Ninguém sabe com certeza, mas fontes próximas à equipe indicam que Piastri tem contrato até 2027. No entanto, se ele vencer o título em 2025 com a McLaren, mas se sentir que a equipe não o apoiou de verdade, ele pode exigir mais autonomia em 2026 — ou até buscar uma vaga na Red Bull, que já demonstrou interesse. A vitória poderia ser seu cartão de entrada para a equipe mais poderosa da F1.
MELINA Lima
novembro 29, 2025 AT 21:34Piastri fez o que todo atleta deveria fazer: lutou pelo seu sonho. Ninguém merece ser obrigado a abrir mão de um título só porque o time quer. Isso não é esporte, é escravidão disfarçada de equipe.
Parabéns, Oscar. Você não é só rápido, é corajoso.